segunda-feira, 28 de novembro de 2011

" Chorar em público"

"Quando sair este jornal, a Maria João e eu estaremos a caminho do IPO de Lisboa, à porta do qual compraremos o PÚBLICO de hoje. Hoje ela será internada e hoje à noite, desde o mês de Setembro do ano passado, será a primeira vez que dormiremos sem ser jun...tos.
O meu plano é que, quando me expulsarem do IPO, ela se lembre de ir ler o PÚBLICO... e leia esta crónica a dizer que já estou cheio de saudades dela. É a melhor maneira que tenho de estar perto dela, quando não me deixam estar. Mesmo ficando num hotel a 30 passos dela, dói-me de muito mais longe.
O IPO consegue ser uma segunda casa. Nenhum outro hospital consegue ser isso. Podem ser hospitais muito bons. Mas não são como uma casa. O IPO é. Há uma alegria, um humor, uma dedicação e uma solidariedade, bem-educada e generosa, que não poderiam ser mais diferentes da nossa atitude e maneira de ser - resignada, fatalista e piegas - que são o default institucional da nacionalidade portuguesa. É graxa? Para que tratem bem a Maria João? Talvez seja. Mas é merecida. Até porque toda a gente que os três IPO de Portugal tratam é tratada como se tivesse direito a todas as regalias. Há muitos elogios que, não obstante serem feitos para nos beneficiarem, não deixam de ser absolutamente justos e justificados.
Este é um deles. Eu estou aqui ao pé de ti. Como tu estás ao pé de mim. Chorar em público é como pedir que nada de mau nos aconteça. É uma sorte. É o contrário do luto. Volta para mim".


Digo-vos, foi por isto que me apaixonei por radioterapia e por tudo o que o IPO envolve.... Porque lá vemos as pessoas que menos esperanças poderiam ter com um sorriso na cara, conseguimos encontrar alegria até na tristeza, é uma família. Devolvem-se esperanças, nem que seja a esperança de ver o sol por mais um dia.... Concretizam-se sonhos, nem que seja o sonho de poderem dormir na mesma cama só mais uma vez... Trazem-se vidas de volta, nem que seja a pais desesperados com crianças que saem curadas. Enfim.. fartei-me de chorar a ler isto e lembrei-me outra vez porque é que me senti tão realizada no IPO, porque é que queria tanto dar a cara por uma instituição tão nobre, porque é que é um orgulho fazer parte desta família que todos os dias ensina outra vez a sorrir.

Querido Miguel, no IPO, os milagres acontecem... E hoje o Público foi lido em Portugal inteiro com o coração...

Um muito obrigada e as melhoras da Maria João! Se se ri em público porque é que não se haveria de chorar?

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